ELEITOR, SÓCIO DO CRIME ABENÇOADO
Fui dar uma aula em uma igreja em Santa Cruz num sábado á tarde. Atividade gratuita, e o pessoal de lá mandou um motorista me buscar.
Acharam que eu seria candidato nas próximas eleições, pois só isso podia explicar a minha ida a Santa Cruz num dia de sol.
Deixei que o motorista pensasse assim, para curtir a conversa.
Essa tarde reforçou a minha impressão de que só nós, da classe média metida a besta, achamos que a política eleitoral brasileira ainda tem algum potencial libertário. O povão já se desligou dessa ideia e trata de fazer negócio com os políticos a cada dois anos.
Moro no Jardim Botânico. Na ida, o motorista foi pela Barra da Tijuca. Na volta, escolheu a Avenida Brasil. Quem conhece o Rio de Janeiro sabe que dei uma volta completa na cidade. Foi-me mostrando um a um bairros, comunidades e conjuntos habitacionais:
- “Ali, doutor, o senhor tem que se acertar com o Fulano. É da milícia. São 4 mil votos”. “Tá vendo aquele conjunto lá? Ali é difícil, o Cicrano sempre fecha com o Beltrano”. “Aqui tem jogo, eu posso fazer o contato. Dá prá fazer uns 3 mil.” Foram dezenas de indicações.
- "Mas isso funciona mesmo?”
- “Funciona sim, doutor. Eles entregam [os votos] direitinho. Tudo muito organizado. É só acertar com eles”.
Tive uma aula de política (antipolítica, melhor dizendo). Com alguma grana e nenhum escrúpulo qualquer um se elege sem sair de casa, sem defender nada nem se opor a nada.
Assim podemos entender como Eduardo Cunha teve quase 300 mil votos, força e prestígio para derrubar presidente, como seus filhotes tiveram até mais que isso e, com apoio da opinião pública e até do STF, elegeram outro que por pouco não se reelegeu, e como a Câmara dos Deputados e o Senado estão cheios de gente lombrosiana que cada vez menos devagarinho vai invalidando a Constituição.
“Não posso obrigar ninguém a concordar com minhas opiniões, mas posso ao menos obrigar a ter opinião" - Soren Kierkegaard
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