EXÉRCITO SÓ TEM GENERAL BRANCO





Mentira. O jornalista Sionei Ricardo Leão, militar da reserva, constatou que em seus dois séculos dedicados ao Brasil, o alto escalão da corporação já teve 11 generais negros, mas nenhum alcançou o posto de 4 estrelas, o mais alto da instituição.

Os que mais alto chegaram, só dois, atingiram o 3 estrelas, general de divisão (de diversão seria mais adequado). Um foi o general Lourival do Carmo, promovido em 1950, e o outro, general João Baptista de Mattos, promovido em 1961. Todos os demais foram generais de brigada.

Atualmente, há apenas um general negro na ativa, André Luiz Aguiar Ribeiro, promovido em 2019, que até onde sei era comandante da 10° Brigada de Infantaria Motorizada.

Por óbvio, o Exército - uma instituição com profundas raízes no escravagismo - afirma que “não há qualquer seleção pautada na cor ou raça de uma pessoa. A progressão na carreira militar segue critérios diversos, como concurso público, antiguidade, experiência medida por pontuação e escolha direta de superiores hierárquicos.

Na verdade, o fatores que mais influenciam essa 'pontuação', já nas próprias academias militares, não têm a ver com estudo de estratégia, tática e armamento moderno, mas com ideologia conservadora, simbolismo patriótico e, às vezes, física e matemática fazendo a diferença. Tudo, somado a relações pessoais que contribuem à carreira do militar, desmentindo a tendência, desejada pelo pesquisador, de haver no futuro "mais negros no generalato".

O nome do livro de Sionei Leão, Kamba Racê, é referência a uma chacina que aconteceu na Guerra do Paraguai (1864-1870), durante a “Retirada da Laguna”, quando uma tropa de cerca de 700 homens recuava da região onde fica o estado do Mato Grosso do Sul, após a invasão de paraguaios na área.

O efetivo precisava, no entanto, carregar cerca de 130 soldados que sofriam de cólera. Com receio da deserção dos militares sadios, o comandante da tropa tomou a decisão de abandonar os doentes no caminho. 

Os enfermos, quase todos negros, foram encontrados pelo exército inimigo e houve um extermínio; só um enfermo sobreviveu.

Existe, todavia, um massacre de cunho racista muito mais exemplar da discriminação que os negros sofrem e sempre sofreram no Exército, mas esse depois eu conto.

Por enquanto, fica a notícia mais recente dos privilégios dos generais, brancos em sua imensa maioria: o contribuinte vai desembolsar 4 milhões de "ajuda de custa" que pode chegar a 150 mil por cabeça, para 50 generais se transferiram de uma cidade para outra.

Essa prática é discriminatória e só serve para aumentar os rendimentos dos generais, que se situam entre os dos cinco exércitos mais bem pagos do mundo. Aos demais militares, de patente mais baixa, sobra reclamar da disparidade e da falta de transparência.

 
“Não posso obrigar ninguém a concordar com minhas opiniões, mas posso ao menos obrigar a ter opinião" - Soren Kierkegaard


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