Capital financeiro e "o pãozinho quente"


Aos Senhores Diretores do Meu Banco.

ESCREVO PARA SABER se os senhores aceitariam pagar uma pequena taxa mensal para a manutenção dos serviços (por exemplo, padaria, feira livre, mecânico, farmácia, etc.) nas cercanias das agências de seu banco.

A taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao pagante. Existiria somente para manter um serviço de alta qualidade.
Minha sugestão deriva de um simples raciocínio: vou à padaria, o padeiro me atende, vende o pãozinho, mas além disso cobra para embrulhar e me impõe taxas do tipo 'acesso ao pãozinho', 'guardar pão quentinho', e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo como muita cordialidade e profissionalismo. Justamente como ocorre com os serviços prestados por seu ("nosso") banco.


Ontem financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os senhores me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado pelo pãozinho.
No entanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me cobrando apenas pelo produto que adquiri. Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma 'taxa de abertura de crédito' - equivalente a uma hipotética 'taxa de acesso ao pãozinho', que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.
Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu banco.
Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma 'taxa de abertura de conta'.
Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa 'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura da padaria', pois, só é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.




Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como papagaios'. para liberar o 'papagaio', alguns gerentes inescrupulosos cobravam um 'por fora', que era devidamente embolsado.
Fiquei com a impressão que o Banco resolveu se antecipar aos gerentes inescrupulosos.
Hoje, ao invés de um 'por fora' temos muitos 'por dentro':
(a) tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00; 
(b) olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 'para a manutenção da conta' semelhante àquela 'taxa pela existência da padaria na esquina da rua';

(c) descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo;
(d) os senhores são insaciáveis. A gentil funcionária que me atendeu, entregou-me um caderninho informando as taxas cobradas por toda e qualquer movimentação que eu fizer.



Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam, muito cordial e profissionalmente, que serviço bancário é muito diferente de padaria. E, além de tudo, informarão que estão cobrando algo coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central.

Essas taxas são imorais, abusivas, autoritárias e criminosas, apesar de garantidas por uma legislação característica - como disse Lênin - da "ditadura do capital financeiro", que subordina os cidadãos e todo o processo produtivo aos interesses dos bancos, "o sistema nervoso central do capitalismo".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog