DIANTE DO SOFRIMENTO, A IMPORTÂNCIA DE TER CONVICÇÕES FORTES

Nelson Mandela:
"O
aspecto mais perturbador da vida na prisão é o isolamento. Não há começo nem
fim, apenas a sua própria mente, que às vezes engana. Foi um
sonho ou realmente aconteceu? A pessoa começa a questionar tudo. Tomei a
decisão certa? Valeu a pena o meu sacrifício? Na solidão, não há nada para
distraí-lo dessas perguntas pesadas. Mas o corpo humano tem uma enorme
capacidade de se adaptar às circunstâncias difíceis. Descobri que se pode
suportar o insuportável, quando se é capaz de manter o espírito, mesmo quando o
corpo te põe à prova. Ter convicções fortes é o segredo para sobreviver às
dificuldades. O seu espírito pode ficar cheio, mesmo quando seu estômago está
vazio. Um homem que tira a liberdade de outro homem é um prisioneiro do ódio,
está preso atrás das grades do preconceito e da incapacidade de ver além... Os
oprimidos e os opressores são privados de sua humanidade da mesma forma".
Marcos Perioto:
"Os cubanos foram bem, fizeram o
que tinham que fazer, enfrentaram os exércitos do apartheid, dos mercenários e
de toda sorte de contra-revolucionários (Savimbi et caterva). Mas não creio que
a sorte da África do Sul e do Mandela estivesse ancorada na presença cubana em
Angola. Muitos vão falar: mas se derrotassem o MPLA e alcançassem as reservas
de diamantes e o petróleo de Cabinda? Seria, sem dúvida, uma catástrofe,
especialmente para os angolanos.
Porém, parte considerável da extração
de diamantes já estava sob o poder do clã dos Savimbi. Além disso, vale lembrar
que a África do Sul já era, à época, o país mais desenvolvido da África, cuja
economia estava abalada não por conta do acesso à riquezas naturais (que a
África do Sul tem em abundância) mas sim pelo boicote e às sanções impostas
pela comunidade internacional contra o regime de segregação.
O destaque deve ser dado à
inteligência política da direção do Congresso Nacional Africano que teve a
capacidade de unir as principais forças políticas internamente com o respaldo
de um impressionante e massivo movimento social e popular, orientados não à
revanche e sim à transição do regime do apartheid para a democracia.
O CNA utilizou-se de todas as formas
de luta sem, entretanto, derivar para qualquer atalho golpista, sem desdenhar
da organização e a participação das massas na luta política. Mais do que a luta
armada, organizou a desobediência civil.
Quando quiseram impor o Africâner
como língua nacional criaram um movimento nacional pelo ensino do inglês, pois
não pensavam somente na luta contra o regime e suas política racista e sim no
desenvolvimento do país e da necessidade de inserir-se na comunidade
internacional.
Não fosse a firme defesa de uma
política de amplas alianças interna e externamente, na qual Mandela teve
posição central e insubstituível, de concentrar-se na luta pelo fim do
apartheid, evitando delírios esquerdistas e golpistas, que existiam e tinham
apoio considerável, inclusive dentro da própria família (vide posição de Winnie
Mandela, a ex-esposa), certamente não se teria configurado a ampla coalizão
internacional que impôs ao apartheid sanções econômicas e o isolamento (até a
FIFA e a Fórmula 1 cancelaram eventos na África do Sul racista!).
Boa parte das esperanças de um futuro
melhor para a África recaem sobre os ombros da África do Sul. Que a enorme
contribuição de Mandela siga servindo de exemplo e orientação para muitas
gerações de lutadores sociais da África e de todo mundo".
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