BRASILEIROS CONFIAM EM CORRUPTOS PARA COMBATER A CORRUPÇÃO

"Gostaria de ser juiz no Brasil?", perguntaram a um magistrado sueco.
“Tenho um excelente emprego na Suécia e não
me sentiria confortável em trabalhar nas condições em que parecem trabalhar os
juízes no Brasil. Em minha opinião, um juiz deve ter um padrão de vida
comparável ao dos cidadãos que deve julgar.
Por quê?
“Porque juízes não devem formar uma classe à parte, e sim ser parte da
sociedade. Juízes devem ser pessoas capazes de compreender a situação em que
vivem os cidadãos comuns, pois detêm o poder de julgar”.
No Brasil, o poder de compra do salário de um magistrado federal, por exemplo, é alto, o
mais alto do mundo. Até recentemente, só os juízes canadenses superavam os
brasileiros, mas de uns tempos para cá a situação mudou bastante.
Os magistrados procuram se explicar dizendo que é por conta do
"estresse causado pela carga de trabalho”. Improvável. Um magistrado
federal brasileiro de 1º grau encerra em média 1.350 processos por ano, ao passo
que nos Estados Unidos um juiz termina quase onze mil e quatrocentos [Revista
da AJURIS (Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul), nº 103, pp. 317-318].
Uma situação ridícula, resultado de uma bem sucedida e desenfreada
busca por privilégios e benefícios ilegítimos e imorais. Busca que configura uma
forma de corrupção que não se resume ao roubo de dinheiro público. É a "corrupção cinzenta", descrita pelo professor Arnold Heidenheimer, diferente dos
"crimes econômicos" (extorsão, suborno, fraude, contrabando, evasão,
sonegação etc.).
A corrupção cinzenta é característica das variadas formas legais,
ilegais e semilegais pelas quais nas instituições mais poderosas multiplicam-se
movimentos de reciprocidade que geram obrigações e ao mesmo tempo, como
resultado indireto, práticas e tendências corruptas.
Ainda mais grave é o enraizamento desses costumes daninhos na vida
pública, através da criação e manutenção de redes de relacionamento pessoal e
tratamento preferencial, ao mesmo tempo justificando a corrupção cinzenta aos
olhos dos cidadãos.
Práticas e tendências corruptas deixam assim de ser percebidas como
ruins e adquirem status de normalidade. Até mesmo para quem as condena, mas as
adotaria caso tivesse oportunidade de também usar o aparelho de Estado em benefício
próprio.
Não admira, portanto, o “convite” que os "corruptos cinzentos"
(delegados, juízes, promotores, juízes etc.) fazem quando são criticados: quem
quiser gozar dos nossos privilégios que preste concurso público e seja
aprovado. Mórbida e rancorosa espécie de compadrio, que aos núcleos
privilegiados do funcionalismo agrega cada vez mais capacidade de resistência,
mas legitima a corrupção cinzenta como algo funcional e indispensável às
atribuições e competências dos membros das oligarquias.
Um
câncer que se reproduz assolando a democracia e as instituições como a Justiça,
revestida de poder para inibir tendências desviantes e evitar convulsões
sociais, cuja real função é estabelecer e manter interdependência, fonte de
consenso, coerção e controle.
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